Brincadeiras reparacionais com kicksesses da sucata.
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Ora então o meu kicks perdeu os dentes. Será que eu consigo resolver o
problema sem comprar um novo? Parece um desafio interessante! Fui à sucata
e saquei...
Desde que comprei a minha Vespa PX200S mantive seu escudo imaculado, prometi a mim mesmo que ela só receberia um emblema quando houvesse um Vespa clube ativo no Rio. Pois bem, hoje foi o momento. Esta semana chegaram do RS os adesivos do emblema da Confraria Rio Vespa Clube, que desde 14 de novembro de 2010 reergueu a bandeira do scooterismo na capital fluminense. Meu sincero agradecimento aos confrades que têm feito da CRVC um grupo unido e divertido; e ao Fábio Borba, que com seu know how de CVMC, nos ajudou com a confecção destes adesivos.
[Foto: Leonardo Dueñas]
Desprovido de qualquer pretensão de "cobrir" o evento, quero registrar aqui apenas umas poucas impressões de um scooterista carioca visitando um salão de motos em sua cidade, neste caso o Salão Bike Show 2011. No Rio de Janeiro é sempre importante manter a expectativa baixa, pois com os diversos fiascos passados de eventos do gênero na cidade, convém apagar os salões paulistanos da memória. Partindo dessa premissa, aportei com meu amigo Fernando Porto no Riocentro, domingo 16 de janeiro, último dia para visitação.
Me aproximando do pavilhão encontrei essa chinesa retrô relativamente nova que aparentemente trabalha no estacionamento do centro de convenções, um retrato vivo da falta de peças de reposição com que sofrem seus proprietários - desvalorização total.
O primeiro medo quando se entra num salão carioca de veículos de duas e de quatro rodas é: será um aglomerado de concessionárias com opressivos vendedores? A resposta ao caminhar pelo evento é que até o momento não nos livramos dessa praga; alguns fabricantes nacionais ainda insistem em desconsiderar o Rio de Janeiro como mercado relevante e não instalaram um stand institucional. Na segunda moto que montei no evento já me abordou um sujeito com um sorriso amarelo:
- É essa?!
Respondi então desiludido, quase que me desculpando por fazer o que todos obviamente querem ao entrar num salão dessa natureza:
- Não, só estou olhando. Queria mesmo era sentir o peso da moto.
Fiquei feliz em ver que a parte cultural não foi deixada de lado, com a exposição de parte do acervo do Museu Duas Rodas e da realização de palestras com temas relativos a segurança. No pavilhão anexo havia também o "Centro de Treinamento Honda", onde o visitante que apresentava sua habilitação categoria A assistia um vídeo e depois dava umas voltas numa moto de baixa cilindrada numa pequena pista. Dentre as Hondas disponíveis havia uma única heróica Lead 110, mostrando que o scooterismo existe nesse país, mesmo que em franca desvantagem.
O único fabricante que ao meu ver debruçou-se um pouquinho sobre o mercado de scooters, mesmo focando as elétricas, foi a Kasinski. O que mais chamava atenção por lá era o seu protótipo de posto de abastecimento com uma placa fotoelétrica de 3 m², capaz de abastecer o seu modelo Prima Electra num período de 6 horas. Um tanto otimista a ideia de que essa tecnologia de abastecimento seja viável, mas meu respeito pelo esforço, afinal deu um destaque bem legal no stand. Como a eletricidade está na moda, levaram para lá também bicicletas elétricas e uma espécie de ciclomotor elétrico, cujo espaço para os pés não é suficiente para um homem adulto, parece que o intuito é não parar de pedalar.
A minha maior expectativa com relação a Kasinski era o potencial lançamento da Piaggio Fly 150 nacional [conforme já dito no blog], mas nem sinal dela. Quem deu as caras foi sua irmã Zongshen que partilha a mesma mecânica, a Prima 150, numa combinação de cores incomum no Brasil, que agradou ao vivo.
A Suzuki, representada apenas por concessionárias, não deu pista da nova Burgman de pequeno porte; a antiga AN 125 desaparecida deixou uma lacuna ainda a ser preenchida. As únicas presentes da categoria eram as maxi scooters Burgman 400 e Burgman 650. No stand da Honda a Lead 110 foi apresentada sempre fazendo par com a Biz 125, o que mostra que neste país realmente Cub e Scooter estão sendo reconhecidas como sendo a mesma coisa, embora NÃO SEJAM. A Dafra decepcionou em se fazer ausente no evento, frustrando os que queriam ver de perto e analisar a Citycom 300i - ponto negativo para os senhores responsáveis pelo marketing da marca.
Concluo enfim que o salão estava na medida para os R$ 15,00 de entrada com estacionamento grátis, nada além. Um grande passo para este tipo de evento no Rio de Janeiro, mas ainda permeia pelas passarelas um ar provinciano, sem conceitos e nem lançamentos importantes, com baixa adesão e parco investimento dos principais players desta indústria. Fica então a vontade de que aqui houvesse um estratégico botão "climb", como na Prima Electra, para os muitos degraus a galgar.
Da minha parte, mesmo em meio a cativantes modernidades, visto a camisa* e passo a mensagem de qual cultura represento.
[Foto: (1-13) Leonardo Dueñas; (14) Fernando Porto]
*Camiseta de autoria da CVMC.
Quando visitava pelas décadas de 1980 e 1990 minha família paterna em La Rioja, a menor capital de província da Argentina, não era raro ver famílias inteiras rodando em cima de uma Siambretta 125 Standard de umas boas décadas de fumaça. Para minha decepção desta vez não as vi mais levando e trazendo o povo, substituídas pela febre em duas rodas do momento de crédito fácil, embora se vejam pelas ruas desta cidade automóveis obscenamente desgastados ainda em uso regular.
Não são scooters e nem motocicletas que fazem a cabeça dos riojanos, mas o seu híbrido meio termo, as Cubs. Há por lá uma diversidade de marcas locais que maquilam produtos chineses, bem como as familiares de nós brasileiros Honda Biz e Yamaha Crypton. Me pergunto se a opção pelas Cubs é mais ligada ao menor preço ou se há alguma razão prática que as favorece perante as outras categorias. Realmente as motocicletas são uma diminuta minoria neste local, mas há exceções curiosas como os clones chineses das Hondas DAX ST 70, ciclomotores e scooters CVT de avançada quilometragem.
Como La Rioja se situa num lugar plano e de clima seco, as duas rodas sempre tiveram apelo como um meio de transporte accessível, mas agora vejo que se deu um passo a frente em popularidade. Encontrei postos de gasolina que reservam um espaço específico para motos e também estacionamentos especializados em duas rodas. Há uma considerável quantidade de vagas nas ruas do centro dedicadas apenas a esta categoria de veículo, o que mostra que este pequeno centro urbano soube se adaptar à realidade presente, mas é também recorrente encontrar muitas motos sobre as calçadas.
Uma constatação interessante é o grande número de mulheres conduzindo, quase que empatando com o percentual de homens ao guidão. O fato triste é a completa irresponsabilidade com relação a segurança, uma vez que é bastante raro ver alguém pilotar usando capacete. Na realidade é comum observar um ou dois adultos levando mais duas e até três crianças - algumas delas bebês de colo - sobre uma única Cub; todos sin casco (nem fotografei isso tamanha é a minha revolta com esse desrespeito a vida). Posto por final a imagem de uma mulher dando um raro bom exemplo pelas ruas de La Rioja.
Mesmo ébrio de tantas tediosas Cubs não deixei de perguntar pelas scooters clássicas, será que elas apareceram?
[Foto: Leonardo Dueñas]
[Foto: Leonardo Dueñas]