Bajaj
Aonde estão as nossas ISO? Uma reflexão sobre as motonetas clássicas no Brasil.
outubro 06, 2012
Pensar em motoneta clássica no Brasil é um exercício de remeter-se a memória, pois é possível ficar dias sem ver sequer uma passar rodando, mesmo em grandes centros como Rio e São Paulo. Em termos de raridade de vê-las funcionando ou mesmo apresentadas em eventos de veículos antigos, a analogia que faço é a de como descer a escada de um porão escuro, que entre mofo e teias de aranha oculta o conhecimento sobre modelos nacionais e importados que um dia foram comercializados aqui. Passando ao largo dos triciclos, que pelo intenso uso comercial exauriram-se em literalmente retornar ao pó, uma história a parte.
Ao abrir a porta e adentrar o úmido subsolo, a figurinha fácil é a Vespa PX200. Também, há pouco mais de vinte anos aproximadamente 180 mil foram fabricadas pela Motovespa em Manaus; é razoável que se vejam muitas em boas condições emplacadas por aí. Embora em menor número, porém no mesmo nível pela juventude, colocaria as indianas Vespa PX150 Originale e Bajaj Classic 150, ambas importadas no final da década de 1990. Esse grupo, com algumas limitações aceitáveis, encaram o trânsito de hoje, pois são menos manhosas no dia a dia e já saíram de fábrica com o abençoado CDI.
Descendo-se um degrau em raridade chegamos a vasta turma do platinado. Sua rainha é a Lambretta Li, bastante popular em nosso país na década de 1960 e um clássico entre as restaurações profissionais e caseiras. Não é vista mais nas ruas mas é presença fácil nos encontros de autos veteranos. Suas parentes Innocenti nacionais (Standard, Ld e Cynthia) eu colocaria talvez em um degralzinho a mais em direção ao breu, juntamente com as Vespas M3, M4 e 150 Super. Um bolo danado que abrange quase tantos fabricantes como modelos: Lambretta do Brasil, Pasco, Brumana-Pugliesi, Panauto e Barra Forte. Até este patamar resume-se tudo o que alguém vê em duas rodinhas de 8" ou 10" queimando gasolina com óleo 2T neste nosso pedaço de chão.
O que vem a seguir é a escuridão total das albinas "moscas brancas", onde tropeçamos e caímos direto no fundo lamacento do cavernoso porão. Lá estão os fantasmas que perturbam nossa razão e assombram nosso sono, a começar pelas Vespas Rally 200 e suas contemporâneas cinquentinhas Vespas small frame. Se você em algum momento viu uma dessas duas de perto no Brasil já pode gabar-se entre seus pares de scooter clube. No entanto há coisa talvez rara não apenas em número mas ainda mais difícil de se ver rodando, pois pelo próprio apelo exótico ficaram trancafiadas como objetos estáticos de coleção, dentre elas destaco as Vespas faro basso do início dos anos '50, as Fuji Rabbit, Cezeta, e a sensacional [até onde sei] belgobrasileira Saci. Há outros modelos em particular que não citei propositadamente ou por ignorância, mas isso é categoria peça única e uma andorinha só não faz verão.
Por final levanto a pergunta: e as ISO?! Não foram muito populares mas também bem menos raras que as moscas brancas, por que não se vê exemplares atualmente? Já frequentei uma boa quantidade de eventos e nunca vi uma restauradinha na minha frente, só imagens de galpões sujos na internet e recentemente ao vivo o modelo da imagem do post, do acervo do Osmani (Lambretta D'Época), que torço seja restaurada o quanto antes. Faço o apelo então para que os proprietários das ISO brasileiras empurrem com gosto suas motonetas escada acima, tragam luz a suas belas linhas e destranquem seus motores, pois elas merecem fumacear um pouquinho mais e divulgar a sua existência. Oficina brasileira de motoneta na década de 1960 que se prezasse atendia Lambretta, Vespa e ISO. Que isso possa ecoar nos nossos dias.
[Foto: Leonardo Dueñas]
[Foto: Leonardo Dueñas]