[La Rioja - Argentina] No veo Siambrettas, pero que las hay, las hay.

fevereiro 25, 2011


Era sexta-feira e domingo de manhã eu já partiria de La Rioja para Córdoba, onde embarcaria de volta ao Brasil. Frustrado que só de não ter visto sequer uma Siambretta (Lambrettas fabricadas pela Siam Di Tella na Argentina), perambulava pelo centro da capital riojana durante a hora da siesta. Eis que caminhando pela calçada escuto se aproximando aquele característico som do 2T que aprendemos a distinguir e amar. Tratava-se de um senhor chegando para o turno vespertino em seu kiosco conduzindo uma Siambretta 48, ciclomotor da linha Innocenti. Don Mario Contreras foi muito amável e me contou que por ter vendido seu automóvel para ajudar o filho a comprar uma casa, passou a ir trabalhar diariamente em sua Siambretta 48. Natural, não fosse o veículo ter mais de cinquenta anos.




Don Contreras puxou conversa, contou que uns garotos malvados puseram Coca-Cola no tanque de sua Siambretta 48 e mostrou algumas antiguidades expostas em seu comércio; havia desde caixa registradora e rádios, até séries cronológicas de garrafas de refrigerante. Depois de contemplar a memorabilia de meados do século XX, lancei a pergunta entalada na garganta: "conoces álguien acá cerca que tenga alguna Siambretta?". Para minha alegria a resposta foi positiva! Me indicou que descendo aquela própria rua umas cinco ou seis quadras eu encontraria Don Bazan, mas teria que perguntar, pois não sabia dizer exatamente o endereço.

Na região indicada abordei um homem que saía de casa e indaguei pelo nome até então misterioso. Muito solícito o sujeito pensou um bocado, nos fez andar um pouquinho em cada direção e apontou um portão. Lá fui bater palmas chamando "hola, hola, buenas tardes", apreensivo em querer estar no lugar certo. Uma moça desconfiada titubeou um pouco, mas me confirmou que ali vivia o referido senhor. Fui convidado a entrar e recebido no páteo da casa, um filhote de cachorro preso na coleira chorava muito e não escutava uma só palavra do que me dizia o simpático Don Hugo Bazan. Durante o papo surdo me presenteou uma foto de uma Siambretta 125 d Standard e alguns adesivos de sua garagem oficina mecânica. Mal podia esperar para ver que máquinas ele tinha em casa.






Orgulhoso de seu sortido estoque de pequenas peças, completa linha de extratores e variados manuais, Don Bazan me apresentou ao seu xodó, uma Siambretta TV 175 (segunda série italiana, que no Brasil só chegou como Li, talvez a 175 X). Me contou que fazia reparos nestes veículos há mais de três décadas e que sempre que pensava em parar, um novo cliente lhe batia à porta. Fez questão de mostrar que, embora ela estivesse em meio a alguns reparos, a TV 175 pegava com vigor já en la primera patada, o que registrei no vídeo abaixo.


Antes de partirmos puxou um plástico e revelou uma 125 d Standard de um cliente. Notei que este exemplar e os outros das fotos que me mostrou não tinham o escudo. A resposta veio depois por meu pai: como na Argentina esse modelo 125 cc saiu sem a ventilação forçada (diferentemente do Brasil, aonde só houve 150 cc com ventoinha), a chapa transversal na altura do motor dificulta a refrigeração do cilindro. Como em La Rioja chega a fazer 50º C em alguns verões, não é impopular a solução caseira de mutilar a Standard, mas saber que ainda rodam e que contam com bons mecânicos para seguirem fumaceando, me trouxe grande satisfação.




Por fim, duas constatações interessantes. A primeira é que há ainda algumas poucas peças N.O.S. (novo de estoque antigo) por lá, como observei em uma mistura com peças de Gillera, numa vitrine no centro de La Rioja. O outro fato é que realmente os produtos Siam tinham muito bom padrão de qualidade, pois a geladeira esmaltada que foi de minha avó trabalha ininterruptamente há mais de sessenta anos, atualmente servindo na loja de ferragens da minha tia. Lembrança de um passado de ampla produção nacional, muito diferente da Argentina contemporânea, que sofreu um severo processo de desindustrialização nas últimas duas décadas.



[Foto e Vídeo: Leonardo Dueñas]

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1 comentários

  1. Leo, literalmente, isso é ir ao fim da rua por uma boa estória. :)

    Abraço,
    Vasco

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